SOUZA, Carlos Raphael Ferreira Gonçalves de. “Quem sou eu? Quem vem lá?”: o carnaval carioca da propaganda ufanista à crítica nacional. 106f. Monografia (Bacharelado em Publicidade e Propaganda) – Curso de Comunicação Social, Universidade Veiga de Almeida – campus Cabo Frio, Rio de Janeiro, 2012.
Sete semanas antes do Domingo de Páscoa a cidade se enfeita. Foliões e mascarados abandonam a censura da vida diária para se divertir em uma época do ano historicamente dada aos exageros. O carnaval, festa que ganhou seus contornos na Paris do século XIII, chegou ao Brasil nas caravelas portuguesas. Por meio delas, também vieram costumes e crenças que se replicaram pela “nova terra”. Somos um Brasil neo-lusitano ou uma mistura sem fim de várias culturas? As reflexões aqui apresentadas orbitam em torno de uma criação genuinamente nacional: o samba-enredo. Parte do cancioneiro carnavalesco, teve sua origem nas rodas de samba da casa de Tia Ciata, na Praça XI, e embala desde o começo do século XX, os desfiles das Escolas de Samba da cidade do Rio de Janeiro. No caso dessa monografia, o objetivo é analisar como o carnaval, pela figura do samba-enredo, foi utilizado como ferramenta de propaganda ufanista e de uma posterior crítica nacional, após seu primeiro estatuto, criado pela União das Escolas de Samba em 1934, onde se exigiu temas nacionais nas composições a partir de então. Para tal proposta, além do tradicional embasamento teórico, foram analisadas as letras de 110 (cento e dez) sambas-enredos do período de 1943 a 1989, de forma qualitativa, para se comprovar seus usos. Essa utilização, do povo e para o povo, ganhou força e foi fomentada durante o Estado Novo, período ditatorial comandado por Getúlio Vargas. Ao mesmo tempo, começava a Segunda Guerra Mundial, que inundou o carnaval do patriotismo exacerbado, parte do plano do governo estado-novista. Com o fim da guerra e do Estado Novo, o Brasil já tinha se acostumado ao “novo” carnaval, tanto que foi “importada” pelos militares, depois do golpe de Estado de 1964. Com o tempo, porém, o carnaval que brindou ao poder, se transformou em voz dissente, criticando a situação econômica e social do país. Seja como propaganda nacional ou crítica da vida diária, o samba-enredo ajudou a criar uma sociedade onde pierrôs, arlequins e colombinas pudessem se sentir, enfim, brasileiros.
Palavras-chave: Identidade; Representação; Carnaval carioca; Samba-enredo; Propaganda nacional.